José Aparicio da Silva – Professor e Cientista Social
Aqui, no sul do Brasil, (terra dos “cawboys forever”, mesmo sem nunca ter montado a nada) o “sertanejo universitário” (aliás, esse nome é uma vergonha para a categoria que historicamente tem sido a problematizadora da sociedade) virou a voz do povo. Mas então o povo está mudo, porque esse sertanejo não diz nada. São letras sofredoras e preconceituosas, que incentivam a valentia, o alcoolismo e o machismo. Não há um mínimo de qualidade artística nesse mercado de duplas, apenas produzem “vozes de cabrito”.
E o rock, onde está? Morreu?
Essa máxima de que o rock morreu foi proferida inúmeras vezes ao longo dos anos. Ela assusta, mas não se concretiza. Se fizermos um retrocesso dos ritmos musicais que surgiram de 1950 para cá, veremos que muitos dos estilos morreram, mas o Rock não. Muitos desses foram tão efêmeros que precisamos forçar a memória para ter uma vaga lembrança.
É quase impossível decretar o fim de um gênero musical. Desde que ele seja autêntico, sério e comprometido. O jazz, por exemplo, já foi dado como acabado, mas os seus fãs continuaram a exaltá-lo e o mantém vivo. Com o Rock, a trajetória é parecida. O Rock se transformou, às vezes para melhor, outras para pior, mas permaneceu atuante, ainda que disperso em várias vertentes que se originaram dele. Ou como disse certa vez David Byrne, fundador da banda Talking Heads: "A música deixou de ser vital. Não possui mais o mesmo significado, mas a atitude rock não morreu".
Atualmente, em pleno século XXI, mesmo passados mais de 60 anos de sua criação, vários grupos de rock estão nas paradas de sucesso mundo afora. Estes dados são importantes para indicar a vitalidade do gênero. É impressionante o número de bandas de rock que vêm surgindo. Nem todas têm qualidade, devemos considerar, mas vale a intenção.
O Rock sempre adquiriu respeito pelo seu caráter criativo, ousado, estimulante, independente, libertário, e, acima de tudo, provocador, questionador. O comportamento é o lado mais resistente do rock. Desde sua origem ele causa intriga às gerações anteriores. Tenho certeza que o rock não morrerá tão cedo, porque convivo com adolescentes que ouvem, tocam e compreendem as músicas dos Beatles, Black Sabbath, Iron Maiden, Ramones, Pink Floyd, The Who, só para citar alguns de variados estilos.
Porém, para manter-se vivo nesse cenário, o rock exerce a função de dividir o espaço do mercado com os chamados “artistas do momento”, as “modinhas” que a mídia impõe como cópia mal feita de uma fração da cultura tosca norte-americana.
Sendo assim, os Rockmaníacos passaram a frequentar shows e ouvir programas de rádios (raros) que tocam música de qualidade. Em Ponta Grossa temos a Princesa FM, sintonizada em 89,7 MHz, com o programa “Rock N` Roll”, do jovem DJ Lucas Arnaldo, de 17 anos, que vai ao ar de segunda a sexta-feira, das 21 às 22 horas. A rádio ainda tem um raio de abrangência curto, mas é possível ouvi-la pela internet em http://www.princesafmpg.com.br/.
Por essas e outras, é possível afirmar que o Rock não morreu, e mesmo não tendo tanto sucesso comercial, os apreciadores de boa música nunca vão deixar de preferir esse gênero, pois esse modelo é uma forma vital de expressão, seja artística, cultural ou mesmo político-social.